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Não é futurologia, é analítica urbana

Mar 4, 2020

A Nova Information Management School (NOVA IMS) desenvolveu recentemente um modelo preditivo na cidade de Lisboa, que permitirá ao Regimento de Sapadores de Bombeiros antecipar (tendo em conta diferentes variáveis, como as condições sociodemográficas, trânsito e meteorologia) a alocação dos seus meios na cidade, diminuindo assim os tempos de resposta a eventuais pedidos de socorro. Este é um exemplo, entre muitos, do potencial da ciência de dados na organização das cidades e do impacto, já hoje real, na vida dos cidadãos e na gestão de recursos.

Entrar no caminho da inteligência urbana significará para os municípios portugueses estar na vanguarda do que de melhor se faz em todo o mundo nesta área, com o consequente reforço da gestão municipal, da criação de negócios e empregos e da melhoria da qualidade de vida dos munícipes.

A título de exemplo, Moscovo instalou 20.000 sensores de tráfego, que permitiram a redução em 25% dos tempos de viagem, com um retorno de investimento inferior a dois meses. Também na região de Paris, um programa de car-sharing reduziu os custos de transporte a uma taxa anual de 90%, cortando as emissões de CO2 em 1,5 toneladas e substituindo 25.000 viaturas particulares.

Também em Portugal democratizaram-se iniciativas como os orçamentos participativos, WI-FI público, gestão de ocorrências fix-my-street, ou iluminação inteligente, e os municípios estão, claramente, cada vez mais despertos para a importância da inteligência urbana na gestão do território.

De acordo com os últimos resultados do Radar da Inteligência Urbana, desenvolvido pela NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, da NOVA IMS, em parceria com a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), mais de 80% dos Municípios da secção “Cidades Inteligentes” da ANMP contam já com um responsável político pela área de inteligência urbana e 70% têm designado um coordenador técnico para as smart cities.

Esta realidade é, certamente, o resultado dos esforços da ANMP, dos municípios, da academia e das empresas que, ao longo dos últimos quatro anos, têm vindo a percorrer o País no Smart Cities Tour, para divulgar e partilhar as melhores práticas nacionais e internacionais na área da inteligência urbana. Ainda assim, até ao final de 2019, apenas 27% dos municípios tinham aprovado uma estratégia de smart cities, sendo que somente 16% tinham em funcionamento uma plataforma de inteligência urbana.

É, por isso, preciso fazer mais e melhor. As soluções de inteligência urbana são ainda implementadas de forma relativamente isolada. Esta visão sectorial e verticalizada é materializada em iniciativas que, apesar de serem sem dúvida relevantes no caminho da procura de uma maior eficiência na utilização de recursos, ficam ainda aquém de entregar o real valor que poderiam colocar ao serviço das cidades e dos cidadãos.

Esta foi uma das razões que levou a ANMP a desenvolver um estudo de boas práticas e condições de construção de plataformas de gestão de inteligência urbana no território nacional, que conta com a coordenação científica da NOVA IMS e execução técnica da EY.

Este estudo, intitulado “Municípios + Inteligentes” e desenvolvido no âmbito da operação SATDAP – Capacitação da Administração Pública, teve como objetivo a criação de uma metodologia para o desenvolvimento de plataformas de gestão de informação municipais, bem como a aproximação dos municípios ao conceito de cidades inteligentes e proporcionar um crescimento conjunto, a partir da troca de dados e informação entre Municípios, Administração Pública (AP), entidades privadas e academia, de forma a potenciar a implementação de estratégias urbanas inteligentes.

Por fim, é urgente não apenas garantir a partilha de boas práticas na construção de plataformas de gestão da inteligência urbana, mas assegurar que o atual período de negociação e programação dos fundos para o próximo quadro de financiamento europeu contemple linhas de apoio para esta área.

De acordo com as previsões da IDC, o investimento mundial em inteligência urbana ascenderá aos 158 mil milhões de dólares em 2022, com Singapura, Tóquio e Nova Iorque no topo da tabela. No espaço europeu, mais de 80% dos decisores públicos na área tecnológica considera que as soluções de inteligência urbana melhoram a segurança dos cidadãos. Contudo, a esmagadora maioria dos mesmo decisores públicos continuam a apontar o financiamento como uma forte barreira para o desenvolvimento e implementação destas soluções em 2019.

Exemplo claro de que a analítica urbana pode realmente mudar a vida das pessoas são os resultados do Lx Analytics Hub para o Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa (ver imagem), que consegue prever onde e quando os munícipes serão afetados por ocorrências relacionadas com infraestruturas (e.g. queda de estruturas, inundações), acidentes (e.g. acidentes de automóvel com encarcerados), serviços (e.g. abertura de portas), incêndios e atividades (busca e resgate de pessoas) em que pode existir perigo de vida, e irão começar a contactar as autoridades municipais.

O futuro da cidade é a analítica urbana ao serviço das pessoas.

Miguel de Castro Neto
O Jornal Económico | 4 de março de 2020
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