
Não é futurologia, é analítica urbana
Entrar no caminho da inteligência urbana significará para os municípios portugueses estar na vanguarda do que de melhor se faz em todo o mundo nesta área, com o consequente reforço da gestão municipal, da criação de negócios e empregos e da melhoria da qualidade de vida dos munícipes.
A título de exemplo, Moscovo instalou 20.000 sensores de tráfego, que permitiram a redução em 25% dos tempos de viagem, com um retorno de investimento inferior a dois meses. Também na região de Paris, um programa de car-sharing reduziu os custos de transporte a uma taxa anual de 90%, cortando as emissões de CO2 em 1,5 toneladas e substituindo 25.000 viaturas particulares.
Também em Portugal democratizaram-se iniciativas como os orçamentos participativos, WI-FI público, gestão de ocorrências fix-my-street, ou iluminação inteligente, e os municípios estão, claramente, cada vez mais despertos para a importância da inteligência urbana na gestão do território.
De acordo com os últimos resultados do Radar da Inteligência Urbana, desenvolvido pela NOVA Cidade – Urban Analytics Lab, da NOVA IMS, em parceria com a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), mais de 80% dos Municípios da secção “Cidades Inteligentes” da ANMP contam já com um responsável político pela área de inteligência urbana e 70% têm designado um coordenador técnico para as smart cities.
Esta realidade é, certamente, o resultado dos esforços da ANMP, dos municípios, da academia e das empresas que, ao longo dos últimos quatro anos, têm vindo a percorrer o País no Smart Cities Tour, para divulgar e partilhar as melhores práticas nacionais e internacionais na área da inteligência urbana. Ainda assim, até ao final de 2019, apenas 27% dos municípios tinham aprovado uma estratégia de smart cities, sendo que somente 16% tinham em funcionamento uma plataforma de inteligência urbana.
É, por isso, preciso fazer mais e melhor. As soluções de inteligência urbana são ainda implementadas de forma relativamente isolada. Esta visão sectorial e verticalizada é materializada em iniciativas que, apesar de serem sem dúvida relevantes no caminho da procura de uma maior eficiência na utilização de recursos, ficam ainda aquém de entregar o real valor que poderiam colocar ao serviço das cidades e dos cidadãos.
Esta foi uma das razões que levou a ANMP a desenvolver um estudo de boas práticas e condições de construção de plataformas de gestão de inteligência urbana no território nacional, que conta com a coordenação científica da NOVA IMS e execução técnica da EY.
Este estudo, intitulado “Municípios + Inteligentes” e desenvolvido no âmbito da operação SATDAP – Capacitação da Administração Pública, teve como objetivo a criação de uma metodologia para o desenvolvimento de plataformas de gestão de informação municipais, bem como a aproximação dos municípios ao conceito de cidades inteligentes e proporcionar um crescimento conjunto, a partir da troca de dados e informação entre Municípios, Administração Pública (AP), entidades privadas e academia, de forma a potenciar a implementação de estratégias urbanas inteligentes.
Por fim, é urgente não apenas garantir a partilha de boas práticas na construção de plataformas de gestão da inteligência urbana, mas assegurar que o atual período de negociação e programação dos fundos para o próximo quadro de financiamento europeu contemple linhas de apoio para esta área.
De acordo com as previsões da IDC, o investimento mundial em inteligência urbana ascenderá aos 158 mil milhões de dólares em 2022, com Singapura, Tóquio e Nova Iorque no topo da tabela. No espaço europeu, mais de 80% dos decisores públicos na área tecnológica considera que as soluções de inteligência urbana melhoram a segurança dos cidadãos. Contudo, a esmagadora maioria dos mesmo decisores públicos continuam a apontar o financiamento como uma forte barreira para o desenvolvimento e implementação destas soluções em 2019.
Exemplo claro de que a analítica urbana pode realmente mudar a vida das pessoas são os resultados do Lx Analytics Hub para o Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa (ver imagem), que consegue prever onde e quando os munícipes serão afetados por ocorrências relacionadas com infraestruturas (e.g. queda de estruturas, inundações), acidentes (e.g. acidentes de automóvel com encarcerados), serviços (e.g. abertura de portas), incêndios e atividades (busca e resgate de pessoas) em que pode existir perigo de vida, e irão começar a contactar as autoridades municipais.
O futuro da cidade é a analítica urbana ao serviço das pessoas.
